sábado, 22 de dezembro de 2012

Se meu coração tivesse poesia


Se meu coração tivesse poesia,
De nada iria pronunciar.
Se minha voz tivesse melodia,
Ela, por capricho, iria desafinar.
Se eu tivesse pelo menos razão naquilo que digo,
Minhas palavras não diriam nada de verdade...
Se meus pés, que são meus pés
Nem andam por onde quero,
Quem dirá minha imaginação flutuar por uma nuvem que nem choveu?
Se meu desejo tivesse nome,
As minhas mãos tratariam logo de batizar,
Mas, e como sempre “mas”...
Se minhas mãos trabalhassem para o bem de minha alma
Que tragédia ocorreria!
Minhas mãos não pegam!
Os meus pés não vão!
A minha alma não se tem,
As palavras se horrorizam com tanta deficiência humana...
Mas...
Se eu fosse um religioso,
Um brilhante de olhos venenosos,
A minha carne seria fresca!
Os meus olhos os mais alimentados!
Meus ouvidos os mais longínquos e precisos!
Ah, se eu fosse um religioso com certeza minhas mãos seriam sagradas,
Meus pés voariam a um infinito cintilante,
Até minha voz gritante seria um conforto e um bom semblante.
Se eu fosse um acreditador de mistérios e segredos
Se tivesse a honra de ver espíritos e espetáculos azuis
Meu tom talvez seria mais agradável e complacente...
Mas... e de novo aquele “mas”...
Se eu fosse desses que brilham no escuro,
Que rezam de joelhos e de joelhos são glorificados
Talvez o meu gosto, o meu corpo, o meu chão
Sentir-se-iam menosprezados...
Talvez o meu choro, o meu arrepio, o meu calafrio
Sentir-se-iam inferiorizados.
Sabe de uma coisa,
Se eu fosse um religioso desses que se trompam como formigas
À procura de alimento,
Eu pararia por um espaço de tempo.
Colocaria os restos no chão, como se faz com as palavras,
E me perguntaria:
O que seria de mim se meu coração tivesse poesia?
O que seria de mim se minha voz tivesse melodia (?)...

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