segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Malditos ratos benditos


Ultimamente não sei mais o que faço com esses ratos...
Além de me incomodarem com seus ganidos irritantes,
Estragam minha casa e roem minha paciência...
Ratoeiras?
Até mesmo as melhores já não dão conta...
Proliferam...
Pela sua crença de que quanto mais se espalham mais fortes são,
Fazem do meu lar um lugar invisitável.
Rolam pedras, restos e palavras por cima do forro...
Nos cantos cantam como se quisessem me incomodar...
Nas ruas se separam em grupos em busca da melhor comida.
Por causa desses ratos não posso deixar minha tela no cavalete...
Por causa desses ratos minha voz se sente diminuída e desafinada.
Por causa desses desgraçados ratos desesperados
A minha casa, a minha cidade, o meu mundo sentem-se corroídos e perturbados.
Se com armadilhas e venenos suas vidas se fortalecem e multiplicam,
Não tenho outra saída a não ser fazer roer uns aos outros...
E se sobrar um que derrame sangue pelo próximo,
Se é que aparecerá este roedor tolo,
Tenho certeza de que minha tela terá um acabamento especial em tom vermelho,
Como o último verso de um poema.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"Servir e Proteger"


Existem muitas salinhas por aí afora... Beija-flores, computadores pretos e cidadãos rodeiam as nossas vidas. Mas, em que momento e por quais motivos esses elementos nos afetam?

Era uma segunda-feira, e isto já diz muita coisa. A delegacia estava vazia, uma espécie de secretário que sentava na sua cadeira e na sua carreira lia as grandes notícias da manhã pelo correio eletrônico, enquanto o cidadão lia sua disposição mecânica através da janelinha que lhe foi proposta.
A vontade na gaveta, a educação no coldre e as expectativas no “Bom Dia” do delegado, que soara como um “Faça-se a luz!” enquanto passava com seus óculos escuros e seu terno impecável... A delegacia é uma vida quieta, que só se fala quando os personagens não usam preto.
Diriam os mais entendidos: “Esse ambiente, a delegacia, não é nem um pouco quieto; é repleto de casos e casos onde nós, os conhecedores do cumprimento, temos que nos desdobrar em mil para solucionar os problemas dos que não sabem viver e conviver” – e isto é escutado por cada cidadão que espera na salinha para ser atendido, enquanto lê as placas de “proibido fazer isto e aquilo”, “nem pense em fazer isto, prisão certa!”. A afirmação dos entendidos, contudo, contém em si uma dissensão cinza, mesmo sabendo que as placas de aviso e medidas são mais ofensivas que qualquer atitude delinquente... Placas de lado e olhares abaixo, continuemos...
Enquanto o cidadão aguardava as conversas do domingo terminarem, pois os funcionários do Estado têm o direito de perder o tempo que quiserem com seus esplêndidos assuntos, um beija-flor adentra à delegacia. Por ironia, a delegacia tinha o limite dos espaços com vidros transparentes acima e ao redor da porta. O beija-flor, assim como os cidadãos, aguardava o fim daquela tortura: o pequeno pássaro querendo sair da cela se debatendo; os cidadãos querendo entender a postura policial, além de afligirem-se diante dos gemidos de um preso lá dentro. Ao contrário do beija-flor, que nesta altura (e por esta altura) já estava cansado de querer encontrar a saída para o mundo, os funcionários do Estado estavam com a saída para o mundo nas mãos, aliás, no sistema do computador preto.
Enquanto o pássaro se debatia, um policial lá dentro batia e o cidadão, ignorante e burro apenas observava todo aquele drama da vida real. A grande solução do mundo, o sistema que serve os funcionários servidores, ironicamente “saiu do ar” (e quem dera tivesse acontecido isso com o pobre beija-flor...). Mas ainda bem que, como se sabe, os policiais são muito companheiros (para com seus semelhantes) e logo foi desferido pedido de ajuda ao colega:
“ – Estava usando normalmente e parou de funcionar. Se bem que essa máquina não prestando prá nada”. Disse sério e cheio de certeza, como um bom policial...
O colega soluciona o problema, dizendo:
“ – Você não qué nada, ? Não vendo a cor do computador? É preto, meu amigo, espera que funciona bem?”.
O beija-flor caiu.
Os cidadãos se entreolhavam depois daquela afirmação gritada, poderosa e engraçada... Afinal, um bom policial deve se mostrar bom; um bom cidadão deve se mostrar bem.
As batidas de asas do beija-flor cansaram menos os olhos que a as batidas de palavras fustigadas o espírito, e isto mesclado às batidas de porta ( e“poder”, eram as onomatopeias!), aos narizes empinados dos servidores, às placas de proibido...
O cidadão viveu três horas de sua vida no local onde se “serve e protege”. Coitado do beija-flor, sequer ele foi protegido da morte... Coitado do computador preto, sequer ele foi protegido das piadas desgraçadas... Coitado do cidadão, que sai do estabelecimento com uma única serventia nas mãos: uma simples crônica. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

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... porque o pensamento permite criar um vazio...


Escutem! O gênio está falando!
“A natureza não existe...”.
“Deus não existe...”.
“Homem? homem não existe”.
“O bonito do azul no céu não existe”;
“O riso da criança alegre não existe”;
“... A vida não existe!”.
"Quem disse que existe?!"...
Ele é um gênio, não é? Ele é um gênio...
Ouça, ouça!
“Quem disse que a natureza é?”.
“Quem disse que Deus é?”.
“Quem disse que homem é?”
“Quem disse que a vida é?”
Olhe só, olhe só, aquele ali vai interrompê-lo!
( – Foi o homem!)
 “ – Mas homem não existe!”.
( – Foi Deus!)
“ – Mas Deus não existe também!”.
Ele está incomodado, veja... Mas ele sempre se sai bem...
( – Foi a vida!)
(...)
“ – Por que a vida?!”
( – Porque não existe nada antes nem depois que não seja ela!)
( – Foi ela quem disse que tudo existe!)

( – É que ela disse sem dizer...)

“ – Ora! Você está atrapalhando Minha Poesia!”,
“ – Deixe eu continuar mostrando o que A Minha Poesia é!”
( – A sua poesia não existe!)
Vamos, vamos embora...
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