quinta-feira, 2 de maio de 2013

À classe gramatical


O povo, enquanto canta, assobia e sorri, é espancado pela força maior.
O povo, que nem povo sabe que é, é tão pobre que qualquer alegria o enriquece.
O povo, este que há muito se arrasta pelas ruas até o trabalho, ainda não viu o valor de seu suor.
O povo arde em desespero, mas se acalanta com os pequenos gestos, com os pequenos fardos, com os míseros trocados no bolso.
O povo é heroico, mas sua consciência um pó ao vento;
O povo é viril, mas suas forças ainda tendem proutro lado;
O povo é rico, mas nem sabe que tal fortuna se esconde sob seus olhos.
O povo sabe que sua mão transforma.
O povo acredita que em vão não se move e nem é vazia a vida;
O povo sustenta a lembrança e promove a herança enquanto dança na lida.
O povo se satisfaz entre os afetos misericordiosos;
O povo não sente dor, o povo sofrido trabalha com amor.
O povo que tem história não se conta pra si mesmo.
O povo não perde tempo, porque não pode e porque não deve.
O povo e o porco engordam o cercado do dono enquanto o pão da manhã ficará prá amanhã...
O povo ainda elogia o medo.
O povo parece silenciar ante as engrenagens, ante os chiados, ante os trilhos dessa máquina.
O povo não pode morrer.
O povo não seria capaz de dizer “um Não” a si mesmo.
O povo, que unido se tornou o que é, não abaixaria a cabeça por um simples chicote.
O povo promove!
O povo se presta e empresta o que não tem!
O povo que grita recebe da vida o poder de viver!
O povo se tem!
O povo é o todo que sobre si mesmo mantém esse alguém.
O povo é a meta!
O povo é a reta!
O povo é tudo o que se fez e o que se faz!
O povo é a vida do mundo que se diz e que se faz enquanto alguém acredita dizer e fazer.
O povo, que liga os pontos do trilho caminha pralém dos ternos e dos linhos, dos termos e das linhas
O povo é bicho!
O povo é homem!
O povo é a maior parte do mundo que se diz ao próprio mundo!
O povo consome, mas o povo também executa!
O povo escuta, mas também grita!
O povo reproduz, mas o povo também cria!
O povo precisa compreender que executar, gritar e criar devem ser um troféu!
O povo precisa perceber que à frente de si deve estar um novo réu!
O povo precisa entender que os indivíduos doutro lado também são um grupo!
O povo sabendo, percebendo e entendendo renascerá com os olhos prá cima e a cabeça prá si!
O povo, incrivelmente, reviverá o ainda não vivido!
O povo inventará o novo sentido de criação!
O povo agora tem as máquinas e o dinheiro na mão!
O povo é o futuro de si revestido num presente mentido de si!
O povo deixou de ser aquele povo.
O povo é mais que a paz!
O povo é esse jamais batido na cara que se mostra agora orgulhoso!
O povo é generoso em seu próprio sentido!
O povo inventa o sentido porque deixou de estar sentido e em sentido!
O povo agora lidera o prédio porque é ele quem ergueu cada um de seus tijolos!
O povo é o sangue, a lama e o trigo!
O povo é consigo!
O povo é o destino.
O povo é início, o meio e o possível!
O povo foi e continua a ser a maior tecnologia do mundo!
O povo hoje acordou e não preferiu dizer “bom dia”, proclamou:
“O povo!”...
O povo é o dia!”.

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