É
certo que por aqui nem suspeita nem fato são verdadeiros. Mas, daqui de
cima, ouve-se todos os dias que o que é suspeito é fato e o que é fato deve ser
superado. Valiosas notícias... Nossos filhos e nossos pais aprendem num simples
minuto a realidade do real e a simplicidade do mundo.
Como
num teatro lotado e com milhares de pessoas vidradas nas telas do susto, o
espetáculo das hipóteses verdadeiras é tido como uma peça sem igual. E eles
aplaudem... Estaríamos nós exauridos dessa vontade-de-valiosas-notícias, ou são
eles os exauridos de si mesmos? Ainda é cedo para responder. Entretanto, não
existindo mais o “ainda é cedo” podemos afirmar que a suspeita é verídica,
afinal, se é notícia é, em si, um fato.
O
fato, para nós, não seria tão simples e reprodutivo assim como o espetáculo
quer. O fato é um trabalho árduo, suado, neuronizado
se diria, que marca um percurso em prol de um possível progresso. Entretanto,
sequer quer ele entreter e vislumbrar os olhos do ouvinte; sequer quer ele dar um
leve-tapa-de-amigo nas costas daquele que se presta. O fato é muito mais
inimigo que melhor amigo e a suspeita é muito mais demoníaca que angelical. E sendo
assim, como se poderia admitir, nos espetáculos atuais, uma sincronia tão
fantasiosa entre suspeita e fato na nossa missa diária, o jornal?
A
suspeita não é mais suspeita e o fato é uma simples contingência. E dito assim,
nem mesmo função e método se consegue ver – e em termos de outra corrente,
nenhuma beleza se pode perceber nessas encenações desprezíveis. Mas existem os
tais elementos, é que eles são, agora, pintados de cores ainda não muito “visualizáveis”... "A nova tendência" chega ao noticiário nosso de cada dia e se presta como um novo
atributo de adequação: dizer o que se quer ouvir para se vender o que se deve
vender. O que se quereria ouvir num espetáculo? O que se quereria vender num
teatro? Ironicamente, se aguardássemos os fatos teríamos apenas suspeitas...
“A
suspeita de que o bandido tenha matado sua mãe logo depois de brigar com a
esposa” não se distingue “do fato de o bandido ter matado sua mãe logo depois
de brigar com a esposa”. Ouvirão ainda falar em psiquismo da relação, mas ainda é muito cedo para dar esta notícia – "Título Psiquismo da Relação vaza na internet: pesquisadores apontam o título como uma corrente freudiana".
O
importante é que do fenômeno ao sujeito se tem, hoje, uma ventania, algo tão
catastrófico como o movimento das placas tectônicas nos cérebros contemporâneos,
ou se quiserem, A sísmica do pensamento, como “daria na
capa”.
A
ventania é como aquele gênio maligno, mas sua intenção foi comprada. Não existe
como uma tensão justa e que enfrenta o perfeito e o harmônico heroicamente, mas
aparece à frente quando é interessante aparecer, apelativa; ela se noticia. Interessante, talvez seja
esse o nome da ventania, que, aliás, “pode atingir do sul do país até o litoral
nordestino”.
O
interessante vende não porque é rica a informação, mas porque enriquece a
informação à medida que mantém sua própria venda: “Vende-se ventania! (Desde
que não se perceba tal!)”. Será
que o dono do teatro tem uma fascinação pelo medo e pela situação trágica? As
suspeitas aumentam a cada dia – e “suspeitas aumentando” significa extrapolar a
verdade da verdade! Mas isso vale! "Suspeitas aumentando!". Verdade sendo
espalhada: o dono do teatro é dono do Fado.
Aliás,
e contudo, o dono do teatro é interessante (no sentido da sua venda), produz o
medo na política e na ética, no corpo e no espírito, mas nele mesmo parece não
haver nenhum sopro intermediário, não é mesmo? O dono do teatro não sofre de
nenhuma “crise de ventania entre sujeito e objeto”.
Certo é que nenhum desses
fatos será notícia amanhã; e, quanto à suspeita, bom, isto já está comprovado.
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